Sunday, February 9, 2025

A INVENÇÃO DA FOTOGRAFIA

Conforme mencionei no post sobre a câmara escura, ela não tirava fotos, mas servia como "tela" para a projeção de imagens efêmeras que desapareciam e mudavam conforme a luz mudasse. O grande desafio era encontrar uma forma de fixar essas imagens projetadas e essa busca foi o que levou às primeiras experiências fotográficas.  

Johann Heinrich Schulze (1687-1744) foi um professor e polímata alemão. Sua maior contribuição para as ciêcias foi a descoberta que certos sais de prata escurecem na presença da luz, mas não como preservar esses efeitos obtidos, uma vez que o sal de prata continuasse indefinidamente a escurecer na presença da luz. 

O inglês Thomas Wedgewood (1771-1805) era filho de um notório ceramista, cuja marca registrada eram artefatos com desenhos de silhuetas. Wedgewood, então, começou a experimentar com nitrato de prata, que aplicava em folhas de papel e tiras de couro branco esticadas e colocava para tomar sol com um estêncil de uma silhueta cobrindo uma parte dessa superfície. A parte exposta, então, escurecia com a luz. Não demorou muito para que lhe ocorresse que deveria haver uma forma de se fazer essas impressões a partir das imagens projetadas em uma câmara escura! Assim como Schulze, não teve suceso em seus experimentos além disso porque não descobriu como fixar as imagens depois delas aparecessem e, no seu caso, elas sumiam depois que não estavam mais sob a luz.

Daguerre, Niépce e Talbot tinham conhecimento das descobertas de Wedgewood. Elas foram o ponto de partida para tudo o que viria a seguir. 

Joseph Nicéphore Niépce e a primeira fotografia da história


Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) foi um inventor francês que entrou para a história como o criador da primeira fotografia permanente. Começou suas experimentações no início do século XIX, buscando uma maneira de fixar as imagens capturadas pela câmara escura. Em meados de 1826, conseguiu seu maior feito: a primeira fotografia da história, chamada de Vista da Janela em Le Gras. 

O processo que Niéce desenvolveu se chamava heliografia (do grego hélio, sol e grafia, escrita) e consistiu em cobrir uma placa de estanho (ou cobre) com betume da Judeia, que era uma substância sensível à luz, endurecendo quando exposto a ela, enqaunto as partes protegidas pela sombra permaneciam solúveis. 

Niépce colocou essa placa dentro de uma câmara escura apontada para a paisagem da sua janela por várias horas - provavelmente mais de oito! - e após essa longa exposição, mergulhou a placa em uma solução de óleo de lavanda e aguarrás, substância que dissolvia o betume não endurecido, revelando a imagem em tons de claro e escuro.

Essa fotografia não captava tons de cinza, apenas formas e contrastes. Além disso, era única e não permitia cópias. Ainda assim, foi um marco extraordinário que abriu caminho para a fotografia como conhecemos. 

Louis Daguerre

Louis-Jacques Mandé Daguerre (1787-1851) era um pintor e cenógrafo francês que trabalhava com ilusões óticas e efeitos teatrais. Ficou famoso por desenvolver o daguerreótipo, o primeiro processo fotográfico comercialmente viável, anunciado em 1839.

Daguerre começou suas pesquisas com Niépce por volta de 1829, tornando-se seu sócio. Continou os experimentos após a morte de Niépce em 1833, descobrindo um método mais rápido e detalhado para fixar imagens.

O daguerreótipo era muito diferente da heliografia de Niépce. Consistia em uma placa sensível de cobre revestida com prata, exposta a vapores de iodo e, assim, formando uma camada de iodeto de prata que era sensível à luz. Essa placa era colocada no interior da câmara escura e exposta à luz e, dependendo da iluminação da lente usada, o tempo de exposição variava entre alguns minutos (no início) e alguns segundos (depois de melhorias). Daguerre descobriu que uma imagens invisível a olho nu poderia ser revelada ao expor a placa a vapores de mercúrio, que aderia às partes da placa que oram expostas à luz, formando áreas claras.

Para impedir que a imagem continuasse a reagir à luz, a placa era mergulhada em uma solução de tiossulfato desódio (descoberta por John Herschel), que removia os sais de prata nã expostos.

O resultado era uma imagem extremamente nítida  detalhada, diferente de tudo o que existia na época. Os daguerreótipos, no entanto, eram únicos - não era possível fazer cópias, pois cada imagem era uma peça única na placa metálica.

Ao contrário do processo lento de Niépce, que exigia muitas horas de exposição, os daguerreótipos eram mais rápidos e produziam imagens incrivelmente detalhadas. Foi um sucesso estrondoso quando Daguerre apresentou seu processo para o público: o governo francês comprou sua invenção declarando-a um "presente para o mundo", tornando a fotografia acessível.

Apesar do sucesso, o daguerreótipo tinha limitações: era nítido, mas não permitia cópias; o tempo de exposição era relativamente longo; as imagens eram delicadas e precisavam de proteção. Isso levou cientistas e inventores a buscar soluções, então poucos anos depois.

Henry Fox Talbot

William Henry Fox Talbot (1800-1877) foi um cientista e matemático inglês que começou a se interessar pela fotografia por não saber desenhar. Durante uma viagem à Itália em 1833, tentava esboçar paisagens com uma câmara lúcida sem sucesso - o que o levou a pensar: "e se a luz pudesse desenhar essa imagem para mim?". 

Quando Daguerre anunciou seu daguerreótipo em 1839, Talbot se apressou para apresentar sua própria invenção, o calótipo, que estava desenvolvendo em paralelo.

Diferentemente do daguerreótipo, que criava imagens únicas em metal, o calótico usava papel sensibilizado e permitia a produção de múltiplas cópias. Seu processo consistia em mergulhar o papel em uma solução de nitrato de prata e iodeto de potássio, formando assim iodeto de prata sensível à luz. A exposição à luz na câmra escura criava um negativo: as áreas iluminadas ficavam escuras e as sombras ficavam claras.

Em vez de esperar uma longa exposição, Talbot usou uma solução de ácido gálico e nitrato de prata para revelar a imagem latente, reduzindo assim o tempo de exposição. Assim como o daguerreótipo, a imagem precisava ser fixada para não continuar reagindo à luz. Para isso, Talbot usou hipossulfito de sódio (descoberto por Jihn Herschel).

O grade trunfo do calótipo era que o negativo de papel podia ser usado para criar cópias positivas em outro papel sensibilizado, permitindo a reprodução da imagem várias vezes - algo impossível no daguerreótipo.

Talbot não teve o sucesso comercial de Daguerre, mas sua invenção foi o verdadeiro embrião da fotografia moderna. O conceito de negativo-positivo foi adotado e refinado em processos posteriores, como o colódio úmido e, mais tarde, o filme fotográfico da Kodak. 

  • O processo de Talbot (George Eastman Museum):


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