Friday, May 2, 2025

STILL LIFE OU NATUREZA-MORTA - PARTE II | DEPOIS DA INVENÇÃO DA FOTOGRAFIA

(Leia aqui a Parte I - Antes da Fotografia)

Quando a fotografia ainda estava engatinhando, a natureza-morta foi um dos primeiros temas que permitiram aos fotógrafos experimentar luz, composição e tempo de exposição com mais liberdade. E mesmo com o passar dos séculos (olha a poeira no vaso!), o gênero continuou a ser espaço para invenção, contemplação e até provocação.

Fotógrafos Icônicos da Natureza-Morta

  • Louis Daguerre criou O Ateliê do Artista, uma das primeiras naturezas-mortas fotográficas. Um marco do início de tudo.

  • Edward Weston transformou objetos simples — pimentões, conchas, pães — em esculturas puras de luz e sombra.

  • Irving Penn trouxe sofisticação e minimalismo para o gênero, com imagens refinadas e elegantes que passeavam entre a moda e a arte. Clique AQUI para ver um vídeo do  livro Still Life.
  • Josef Sudek fez poesia com a luz que entrava em seu estúdio em Praga. Seus copos e jarras parecem sussurrar memórias.
  • Jan Groover (anos 70/80) mergulhou no cubismo fotográfico com utensílios domésticos e pias transformados em abstrações quase geométricas.
  • Joel Meyerowitz, já mais recentemente, abordou a natureza-morta com um senso de silêncio e equilíbrio, quase meditativo — objetos sobre mesas que respiram junto com a luz.
  • David LaChapelle explodiu a paleta: luxo, crítica, flores, delírio. A série Earth Laughs in Flowers é um verdadeiro carnaval barroco e contemporâneo.
  • Martin Parr levou a ironia às alturas com buffets, fast foods e banquetes meio decadentes — tudo tão plastificado e vibrante que a gente quase sente o colesterol subindo só de olhar.
Outros Olhares Contemporâneos

A tradição da natureza-morta não só sobreviveu à invenção da fotografia — ela se reconfigurou. O século XXI trouxe artistas que ampliam o repertório visual do gênero e adicionam novas camadas de discurso, misturando beleza, crítica e experimentação.

  • Sharon Core recria com extrema fidelidade naturezas-mortas clássicas, mas usando comida real. É pintura? É fotografia? É uma travessa de frutas renascentistas feita no século XXI.


  • Laura Letinsky captura o depois: a mesa que já foi posta, os pratos meio vazios, os farelos do desejo. Uma estética do quase-nada, mas cheia de significado.

  • Daniel Gordon mistura escultura, colagem, colagem digital e fotografia para criar naturezas-mortas caleidoscópicas — frutas e flores viram delírios pop.

  • Lia Darjes retrata com delicadeza os produtos em bancas de mercado no leste europeu, revelando beleza na precariedade. Um olhar social que não abandona a estética.
  • Matt Collishaw, por sua vez, mergulha no excesso: suas composições hiper-realistas e às vezes perturbadoras fazem a gente questionar o que é natural, o que é artificial e o que é puro espetáculo.

Natureza-Morta x Fotografia de Coisas

O que diferencia uma natureza-morta de, digamos, uma foto casual de um prato bonito? Intenção.

Natureza-morta (ou still life, pros íntimos) é um gênero em que o fotógrafo — assim como o pintor antes dele — constrói a imagem. Os objetos são escolhidos, posicionados e iluminados com propósito. Não é apenas um registro, é uma criação.

Natureza-morta não é:

  • Um registro de cena maior onde os objetos não são o foco (ex: mesa de festa em uma foto documental).
  • Uma pessoa segurando algo (a menos que o objeto seja o protagonista, e não o humano).

Natureza-morta pode ser:

  • Fotografia gastronômica feita com cuidado estético
  • Foto de produto com luz pensada e composição
  • Imagens conceituais com objetos simbólicos

Se tem objetos inanimados e intenção estética, estamos no território da natureza-morta. Seja ela silenciosa, barroca, pop, de supermercado ou existencial.

O Gênero Ainda Vive (e Está Mais Forte que nunca)

Longe de ser um gênero do passado, a natureza-morta continua viva, pulsante e surpreendentemente versátil. Hoje, ela inspira fotógrafos contemporâneos a explorar temas como o tempo, o consumo, o excesso, a efemeridade, o silêncio, a beleza e até o desperdício. Seja no refinamento de uma composição minimalista ou no exagero simbólico de uma mise-en-scène exuberante, a natureza-morta serve como espelho dos nossos valores, desejos e contradições.

É como se os objetos dissessem: “Não se engane, só porque estou parado não quer dizer que não tenho algo a dizer.” E eles dizem — com sutileza, humor, crítica ou poesia. Basta saber olhar.

No próximo post, é você quem vai falar através dos objetos. Vamos mergulhar nas possibilidades práticas da fotografia de natureza-morta: como usar a luz da janela a seu favor, compor cenas com itens do cotidiano, escolher fundos simples e criar imagens expressivas sem gastar quase nada. Tudo com aquela vibe caseira, curiosa e criativa — porque beleza e significado não precisam vir em pacotes caros.

Nos vemos em breve na parte III!

 

 


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