Wednesday, August 6, 2025

PHOTO NO-NOS | APERTURE

PHOTO NO-NOs, Meditações sobre o que NÃO fotografar, editado por Jason Fulford, prometia provocar. Mas entrega pouco — e pede desculpas por isso.

Há livros de fotografia que inspiram, há os que provocam, e há os que decoram a mesa de centro com certo charme silencioso. Photo No-Nos: Meditations on What Not to Photograph parece ter optado por essa terceira via. A proposta inicial — reunir reflexões de mais de duzentos fotógrafos sobre aquilo que eles evitam fotografar — é instigante. Afinal, o que um fotógrafo escolhe não enquadrar pode revelar tanto quanto o que escolhe mostrar. No entanto, o conteúdo entregue é desigual, repetitivo e muitas vezes frustrante.

Editado por Jason Fulford — fotógrafo, editor e cofundador da J&L Books, conhecido por projetos experimentais que transitam entre o nonsense e o conceitual — o livro é uma colcha de retalhos de textos curtos, alguns ensaísticos, outros quase listas, em que os autores compartilham seus “tabus visuais”. Entre os colaboradores estão nomes consagrados da fotografia contemporânea como Jim Goldberg, Jeff Mermelstein, Alec Soth, Todd Hido e David Campany (este último com uma das poucas contribuições realmente memoráveis). Mas a quantidade não garante consistência. Ao contrário: o livro se perde em uma enxurrada de reflexões desinteressantes, muitas delas sobre temas tão triviais quanto “árvores à noite com flash”.

A qualidade material, como se espera de uma publicação da Aperture, é impecável: design elegante, capa em relevo, impressão de alto nível e fotografias bem escolhidas. Duas seções visuais interrompem a sequência dos textos e apresentam imagens sem legenda, acompanhadas apenas por trechos dos próprios ensaios e a indicação da página correspondente — o que obriga o leitor a uma caçada pouco recompensadora. A organização editorial salva o projeto do caos: ao final, há uma lista completa de autores e créditos detalhados das imagens. O livro funciona, portanto, mais como objeto do que como leitura.

O BOM

A edição da Aperture, como sempre, é primorosa. A seleção fotográfica tem qualidade e o livro cumpre bem a função de item decorativo. Para consultas futuras, pode até ter algum valor — seja para provocar debates ou para provocar raiva, o que também tem seu mérito.

O RUIM

A maior parte dos textos não entrega o que a proposta promete. São divagações insossas, por vezes indulgentes, que giram em torno de experiências pessoais banais ou de pequenos dilemas morais embalados com zelo ideológico. A sensação geral é de que se trata de uma coletânea de anotações feitas com pressa para agradar ao clubinho — e não um livro pensado para o leitor.

O BONITO

A capa em relevo é belíssima. A diagramação é arejada, o ritmo visual do livro é agradável, e a escolha tipográfica reforça a leveza da proposta editorial. É um livro que brilha esteticamente, o que ajuda a justificar sua presença numa prateleira mais cênica do que intelectual.

O FEIO

A repetição exaustiva de virtudes: o gesto ético virou moeda de autopromoção. Os autores não apenas compartilham seus “photo no-nos”, mas os transformam em declarações de pureza moral. A lógica é a seguinte: não fotografo isso porque sou tão consciente, tão respeitoso, tão profundamente sensível que a câmera se abaixa sozinha. No fim, todos parecem pensar o mesmo, escrever o mesmo e pedir desculpas pelo mesmo.

VEREDITO FINAL: VALE A PENA?

Como leitura? Não. Como objeto? Talvez. Photo No-Nos é um daqueles livros que seduzem pela proposta, pelo formato, pelo selo. Mas, página após página, a experiência se esvazia. A lista interminável de temas evitados (alguns ridiculamente específicos, outros genéricos demais) revela pouco sobre o fazer fotográfico e muito sobre a necessidade de autoafirmação de seus autores.

Ainda assim, o livro pode servir de ponto de partida para uma reflexão mais interessante: cada fotógrafo carrega seus próprios “no-nos” — temas evitados, zonas desconfortáveis, repetições que cansam. Pensar sobre isso é importante. Mas talvez o limite mais sensato não esteja no ato de fotografar em si, e sim na escolha do que se compartilha. Essa ideia, levantada por alguns dos autores, é possivelmente o pensamento mais lúcido e útil entre tantas declarações vazias. Afinal, fotografar é um gesto íntimo; publicar, um gesto político. Quando o gesto de não fotografar vira performance pública, a crítica perde força e vira ornamento.

(Ricardo Cases, El Blanco, 2016)
(Jeff Mermelstein, New York City, 1993)

(Guido Guidi, Passo del Muraglione, 1983)

(Mimi Plumb, Family by the Side of the Road, 1975)
(Stanley Wolukau-Wanambwa, 1/2 Charity Street, 2014)

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