Publicado em 1955 pela Simon & Schuster, The Sweet Flypaper of Life (algo como O doce papel-mosca da vida ou A Doce Armadilha da Vida) foi uma colaboração entre o fotógrafo Roy DeCarava e o escritor Langston Hughes. Concebido a partir de um conjunto de fotografias já existentes de DeCarava, o livro ganhou narrativa quando Hughes decidiu escrever uma ficção curta para acompanhar as imagens. O texto é narrado por Sister Mary Bradley, personagem que conduz o leitor por um Harlem cotidiano e afetivo, comentando sobre familiares e vizinhos enquanto as imagens se sucedem. A combinação entre fotografia e ficção foi incomum para a época e consolidou a obra como uma referência para fotolivros narrativos, mencionada com frequência por fotógrafos e curadores como Alec Soth, Sarah Meister e Dawoud Bey.
Roy DeCarava (1919–2009) nasceu e viveu no Harlem, onde construiu grande parte de sua obra. Formado inicialmente em artes plásticas, migrou para a fotografia no fim da década de 1940, buscando registrar a vida de sua comunidade com nuance e sensibilidade. Ao contrário do fotojornalismo mais direto, suas imagens exploram tons suaves, sombras profundas e composições que remetem a um olhar modernista, mais próximo da pintura. DeCarava enfrentou dificuldades para publicar seu trabalho, muitas vezes ignorado por editoras que não viam mercado para esse tipo de narrativa visual. Seu encontro com Hughes permitiu não apenas a publicação de The Sweet Flypaper of Life, mas também o reconhecimento de um trabalho que equilibrava documentação e expressão artística.
Langston Hughes (1902–1967) foi uma das vozes centrais do Renascimento do Harlem, atuando como poeta, romancista, dramaturgo e ensaísta. Sua obra literária é marcada pelo ritmo oral, pela cadência próxima ao jazz e pelo interesse em traduzir a experiência afro-americana em termos universais. Em The Sweet Flypaper of Life, Hughes assumiu uma abordagem leve e bem-humorada, criando uma sequência de comentários e histórias que não correspondem necessariamente às identidades reais das pessoas fotografadas. Essa liberdade narrativa, ao mesmo tempo que aproxima o leitor, também cria um certo estranhamento: as imagens, feitas em contextos e momentos distintos, nem sempre se conectam visualmente como se espera de um álbum familiar.
Esse desalinhamento entre texto e imagem é parte do que torna o livro peculiar. Enquanto a voz narrativa sugere uma comunidade coesa, quase como uma crônica de família, o conjunto visual aponta para um acervo heterogêneo de situações, luzes e atmosferas. A leitura se constrói nesse intervalo — entre o enredo unificador e a fragmentação temporal das fotografias. Para alguns leitores, isso gera uma sensação de descontinuidade; para outros, é justamente essa fricção que dá ao livro sua força, mostrando que a memória coletiva é feita de pedaços que nem sempre se encaixam perfeitamente.
Em mais um excelente vídeo em que expõe os mais variados fotolivros, Rafael Bosco Vieira nos mostra o conteúdo de The Sweet Flypaper of Life:
The Sweet Flypaper of Life foi republicado na década de 1980, mantendo seu status de referência na história do fotolivro. A edição disponível para consulta no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, é dessa reedição.
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