Wednesday, May 7, 2025

RESENHA DE LIVRO II | OLHAR! DESCOBRINDO A FOTOGRAFIA COM JOEL MEYEROWITZ

 

“Escolhi as fotografias deste livro com a esperança de que as coisas que você descobrir nelas encorajem você a abrir os olhos e a mente, para ver o mundo ao seu redor de um jeito novo.” — Joel Meyerowitz

Caso queira saber mais sobre o fotógrafo Joel Meyerowitz, clique AQUI para ler o post!

Um livro infantil que merece lugar na estante de qualquer fotógrafo

Lançado em 2016 pela Aperture, Seeing Things chegou ao Brasil com o título Olhar! Descobrindo a Fotografia com Joel Meyerowitz. Embora tenha sido feito para o público infantil, o livro é, na prática, um ótimo material introdutório para qualquer pessoa interessada em ver melhor — inclusive (e talvez especialmente) adultos que já fotografam há algum tempo.

Com trinta imagens de nomes essenciais da fotografia — como Bruce Davidson, Henri Cartier-Bresson, Diane Arbus, Saul Leiter, Gordon Parks, Elliott Erwitt e Stephen Shore — o livro propõe uma jornada de aprendizado visual guiada pela própria voz de Meyerowitz. E sim, para quem já conhece o trabalho dele de perto, é impossível não ler os textos com a sensação de estar ouvindo o próprio Joel conversando com a gente.

O bom

O maior trunfo de Olhar! é sua simplicidade — e aqui isso é elogio. Os textos de Meyerowitz, curtos e diretos, nos lembram de algo que muitos livros sobre fotografia esquecem: ver é mais importante do que saber. Cada capítulo parte de uma foto em página inteira e traz um pequeno ensaio que chama atenção para aspectos como composição, emoção, contexto e escolha do momento.

Os temas de cada capítulo são variados e acessíveis, com títulos como “Novas Perspectivas”, “Vida de Cachorro” e “A Condição Humana”. Essa divisão ajuda a estruturar a leitura sem parecer uma cartilha. O foco nunca é a técnica, e sim o olhar. E é justamente isso que torna o livro tão valioso.

A impressão é belíssima. Assim como comentei na resenha de Magnum Streetwise, há algo especial em ter uma cópia impressa de imagens que normalmente só encontramos em catálogos raros e caríssimos — quando conseguimos encontrá-los. É um prazer ter essas fotos no acervo, ainda que em formato didático.

O ruim

Apesar da qualidade gráfica, há um ponto prático que incomoda: para ver as imagens em formato horizontal, é preciso virar o livro. O designer teve o cuidado de girar também o texto e a numeração, mas mesmo assim a experiência de leitura se quebra um pouco. Pode parecer detalhe, mas para quem folheia com frequência, isso acaba cansando.

Outro ponto questionável é a capa. Apesar de coerente com a proposta do livro — afinal, trata-se de um livro sobre ver, e temos um olho enorme estampado ali — ela tem um papel que suja fácil. A minha, por exemplo, já está encardida com poucos anos de uso. Um pequeno tropeço de produção num projeto que, no geral, é muito bem resolvido.

O bonito

A beleza do livro está no convite à observação. Meyerowitz insiste em algo fundamental: olhar exige tempo. Exige perguntas. E esse livro faz exatamente isso — nos convida a mergulhar nas imagens, a tentar entender como e por que elas foram feitas. Produtos pensados para crianças costumam ter explicações mais claras do que os dirigidos a adultos, e esse é um ótimo exemplo disso. O texto não subestima o leitor em nenhum momento, mas também não complica o que pode ser simples.

O feio

Não há nada verdadeiramente "feio" aqui — mas talvez o que incomode alguns leitores mais experientes seja a leveza geral da abordagem. O livro evita qualquer densidade teórica, qualquer discussão mais aprofundada. Para quem espera um ensaio mais robusto ou análise crítica das imagens, pode parecer raso. Mas esse não é o objetivo do projeto, e ele é bastante transparente sobre isso.

Veredito?
Mesmo com seus pequenos defeitos, Olhar! é um ótimo lembrete de que a fotografia começa nos olhos — e não no equipamento. É um livro para iniciantes, sim, mas também para quem já está no caminho e precisa relembrar o que é essencial. Joel Meyerowitz oferece aqui um exercício de atenção e generosidade visual. E isso, convenhamos, não tem idade.


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