Caso queira saber mais sobre o fotógrafo Joel Meyerowitz, clique AQUI para ler o post!
Um livro infantil que merece lugar na estante de qualquer fotógrafo
Lançado em 2016 pela Aperture, Seeing Things chegou ao Brasil com o título Olhar! Descobrindo a Fotografia com Joel Meyerowitz. Embora tenha sido feito para o público infantil, o livro é, na prática, um ótimo material introdutório para qualquer pessoa interessada em ver melhor — inclusive (e talvez especialmente) adultos que já fotografam há algum tempo.
Com trinta imagens de nomes essenciais da fotografia — como
Bruce Davidson, Henri Cartier-Bresson, Diane Arbus, Saul Leiter, Gordon Parks,
Elliott Erwitt e Stephen Shore — o livro propõe uma jornada de aprendizado
visual guiada pela própria voz de Meyerowitz. E sim, para quem já conhece o
trabalho dele de perto, é impossível não ler os textos com a sensação de estar
ouvindo o próprio Joel conversando com a gente.
O bom
O maior trunfo de Olhar! é sua simplicidade — e aqui
isso é elogio. Os textos de Meyerowitz, curtos e diretos, nos lembram de algo
que muitos livros sobre fotografia esquecem: ver é mais importante do que
saber. Cada capítulo parte de uma foto em página inteira e traz um pequeno
ensaio que chama atenção para aspectos como composição, emoção, contexto e
escolha do momento.
Os temas de cada capítulo são variados e acessíveis, com
títulos como “Novas Perspectivas”, “Vida de Cachorro” e “A Condição Humana”.
Essa divisão ajuda a estruturar a leitura sem parecer uma cartilha. O foco
nunca é a técnica, e sim o olhar. E é justamente isso que torna o livro tão
valioso.
A impressão é belíssima. Assim como comentei na resenha de Magnum
Streetwise, há algo especial em ter uma cópia impressa de imagens que
normalmente só encontramos em catálogos raros e caríssimos — quando conseguimos
encontrá-los. É um prazer ter essas fotos no acervo, ainda que em formato
didático.
O ruim
Apesar da qualidade gráfica, há um ponto prático que
incomoda: para ver as imagens em formato horizontal, é preciso virar o livro. O
designer teve o cuidado de girar também o texto e a numeração, mas mesmo assim
a experiência de leitura se quebra um pouco. Pode parecer detalhe, mas para
quem folheia com frequência, isso acaba cansando.
Outro ponto questionável é a capa. Apesar de coerente com a
proposta do livro — afinal, trata-se de um livro sobre ver, e temos um olho
enorme estampado ali — ela tem um papel que suja fácil. A minha, por exemplo,
já está encardida com poucos anos de uso. Um pequeno tropeço de produção num
projeto que, no geral, é muito bem resolvido.
O bonito
A beleza do livro está no convite à observação. Meyerowitz
insiste em algo fundamental: olhar exige tempo. Exige perguntas. E esse livro
faz exatamente isso — nos convida a mergulhar nas imagens, a tentar entender
como e por que elas foram feitas. Produtos pensados para crianças costumam ter
explicações mais claras do que os dirigidos a adultos, e esse é um ótimo
exemplo disso. O texto não subestima o leitor em nenhum momento, mas também não
complica o que pode ser simples.
O feio
Não há nada verdadeiramente "feio" aqui — mas talvez o que incomode alguns leitores mais experientes seja a leveza geral da abordagem. O livro evita qualquer densidade teórica, qualquer discussão mais aprofundada. Para quem espera um ensaio mais robusto ou análise crítica das imagens, pode parecer raso. Mas esse não é o objetivo do projeto, e ele é bastante transparente sobre isso.
Mesmo com seus pequenos defeitos, Olhar! é um ótimo lembrete de que a fotografia começa nos olhos — e não no equipamento. É um livro para iniciantes, sim, mas também para quem já está no caminho e precisa relembrar o que é essencial. Joel Meyerowitz oferece aqui um exercício de atenção e generosidade visual. E isso, convenhamos, não tem idade.
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