Saturday, March 15, 2025

COMO JOHN SZARKOWSKI MUDOU A HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA

 

"A fotografia não precisa imitar a pintura para ser arte. Ela já tem sua própria gramática visual." - John Szarkowski

John Szarkowski nasceu em 1925 e, antes de se tornar uma das figuras mais importantes da história da fotografia, começou sua carreira como fotógrafo. Seu impacto real, no entanto, não veio por meio de suas imagens, mas por sua capacidade de enxergar e destacar o portencial da fotografia como arte.

Ele foi escolhido para assumir a curadoria de fotografia do MoMA, em 1962, substituindo Edward Steichen e essa mudança de guarda marcou uma nova fase. Steichen havia impulsionado a fotografia dentro dos museus, mas ainda de forma associada ao documentarismo, ao fotojornalismo e a exposições populares como The Family of Man (1955). Szarkowski, por sua vez, tinha outra visão: queria mostrar que a fotografia tinha uma linguagem própria e não precisava se apoiar em outras formas de arte ou no conteúdo documental para ser levada a sério. 

A partir daí, Szarkowski ajudou a redefinir o que era considerado fundamental na fotografia, não apenas organizando exposições importantes, mas também lançando ou consolidando a carreira de alguns dos maiores nomes do século XX, como Stephen Shore, Diane Arbus, Lee Friedlander, Garry Winogrand e William Eggleston.

Ao contrário da abordagem mais humanista de Steichen, Szarkowski enfatizava a estrutura e a forma da imagem. Não queria apenas fotos que contassem histórias, mas imagens que revelassem algo sobre o olhar do fotógrafo e sobre a própria linguagem fotográfica. 

No livro The Photographer's Eye, ele argumenta que a fotografia tem elementos visuais únicos que a diferenciam de outroas formas de arte, como a maneira de recortar e reorganizar a realidade. Em Looking at Photographs, a fotografia não precisava imitar a pintura ou seguir os moldes do jornalismo para ser levada a sério. Ela tinha sua própria gramática visual e isso era suficiente.

Mais do que um curador, ele foi um intérprete da fotografia, fazendo o mundo ver que uma grande fotografia não era apenas um documento do real, mas um recorte subjetivo, um pensamento visual. No final das contas, talvez a melhor forma de medir seu impacto seja simplesmente olhar para a fotografia como ela é hoje e perceber que a consideramos arte sem hesitação e isso é porque ele nos ensinou a vê-la assim. 

ANTES DO MOMA

Antes de se tornar uma das figuras mais importantes da curadoria fotográfica, Szarkowski teve uma carreira como fotógrafo. Começou fotografando paisagens e arquitetura, dois temas que marcaram seu olhar desde cedo. Seu ptimeiro livro, The Idea of Louis Sullivan (1956), já mostrava esse interesse, explorando a obra do arquiteto que ajudou a definir a estética dos arranha-céus modernos.

Também publicou The Face of Minnesota (1958), um projeto encomendado para celebrar o centenário do estado, onde combinou paisagens, retratos e cenas do cotidiano. Esse trabalho tinha um viés documental, o que revela uma conexão com Walker Evans que era um fotógrafo que Szarkowski admirava profundamente e que, mais tarde, ajudaria a consolidar no MoMA. Evans, conhecido por sua fotografia direta e sua visão crítica da cultura americana, teve uma grande influência na maneira como Szarkowski via a fotografia - não apenas como um registro, mas como um comentário visual sobre o mundo.

Seu interessepela fotografia de arquitetura foi algo que permaneceu ao longo da vida. Ele via os edifícios como uma forma de expressão visual e entendia a fotografia como um meio de traduzir essa linguagem espacial em imagens bidimensionais. Sua paixão por Louis Sullivam, pioneiro da arquitetura moderna nos EUA, refletia esse fascínio. Ele via a arquitetura de Sullivan como uma síntese entre funcionalidade e estética, algo que também buscava na fotografia: a união entre forma e significado.

Apesar de ter deixado a fotografia autoral em segundo plano ao assumir o MoMA, Szarkowski sempre manteve esse olhar apurado para composição, estrutura e narrativa visual - características que marcaram tanto seu trabalho como fotógrafo quanto sua influência como curador.

JANELA OU ESPELHO? AS DUAS FORMAS DE VER A FOTOGRAFIA

Szarkowski usou essas duas metáforas para descrever duas abordagens distintas dentro da fotografia.

Fotógrafos "janela" tratam a fotografia como um meio de observar e registrar o mundo. Suas imagens funcionam como um recorte da realide, quase como se o espectadore estivesse olhando por uma janela para algo que realmente aconteceu. Esse conceito se conecta ao fotojornalismo e à fotografia documental, onde a autenticidade e o regsitro do real são fundamentais. 

Fotógrafos "espelho" enxergam a fotografia como um reflexo da subjetividade de artista. Aqui a câmera não apenas registra o mundo, mas expressa sentimentos, ideias e visões pessoas. A fotografia se torna mais interpretativa, introspectiva e, muitas vezes, experimental. 

Szarkowski não via uma abordagem como superior à outra - ambas fazem parte da riqueza da fotografia. 

Vídeos interessantes:

  • Estabelecendo a fotografia como arte (Developing Tank):

  • Fotógrafos "janela" e fotógrafos "espelho" (David García-Amaya):
  • Szarkowski: como ver (história da fotografia com Jeff Curto, ep.14):

  • Comentário sobre o livro Olhando para Fotografias (podcast Históra da Fotografia ep.6):
  • O fotógrafo John Szarkowski por Kai McBride:
  • Szarkowski dominou a fotografia por três décadas (Graeme Williams):
  • A exposição que mudou a fotografia moderna - New Documents em 1967

  • Fotolivro O Olho do Fotógrafo (Andras Ikladi):
  • Trailer de "A Vida na Fotografia" - transcrição do conselho de Szarkowski para seus alunos: "Eu digo para os meus alunos 'você não pode esperar até ter uma grande ideia, porque não é uma grande ideia até você se aprofundar nela. Comece a trabalhar em algo no qual tenha pelo menos algum interesse - ou que ache que possa se interessar - e explore o assunto. Se for o assunto certo para você, vai ficar mais interessante conforme você trabalhar nele e, quanto mais você trabalhar nele, mais interessante ele irá se tornar para você. Você não consegue resolver problemas artísticos na sua cabeça e, em seguida, executá-los. Na arte verdadeira você nunca sabe qual é a resposta, você tem que insistir no assunto e, quando não conseguir mais ir adiante, conclui que deve ter encontrado a resposta.'"

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