Dawoud Bey (n. 1953, Nova York) cresceu em Queens e formou seu olhar num período em que o Harlem se consolidava como referência cultural e política. Adolescente, foi à exposição Harlem on My Mind (1969), no Metropolitan Museum of Art, acreditando que haveria um protesto do lado de fora — críticas ao projeto curatorial, que excluía artistas negros, eram intensas. O protesto não ocorreu, mas a visita mudou seu percurso: ali descobriu os retratos de James Van Der Zee (1886–1983), fotógrafo de estúdio que, nas décadas de 1920 e 1930, registrou a classe média e a elite do Harlem com precisão e elegância.
Além de Van Der Zee, Bey foi marcado por Richard Avedon, Irving Penn, Gordon Parks e Roy DeCarava. Parks e, sobretudo, DeCarava demonstraram que o retrato podia articular sensibilidade, fricção social e rigor formal. Para Bey, fotografia passou a significar relação: estar diante do outro com atenção e clareza.
Estudou na School of Visual Arts e concluiu o mestrado na Yale University School of Art. Tornou-se também professor — principalmente no Columbia College Chicago, onde lecionou por mais de vinte anos e consolidou uma reputação de mentor atento, centrado na ética do encontro e na responsabilidade de representar comunidades com precisão e respeito.
Sua primeira série relevante, Harlem, U.S.A. (1975–1979), atualizou a tradição visual do bairro ao fotografar moradores em preto e branco, agora em ambientes cotidianos e fora do estúdio. Em Class Pictures (2002–2006), retratou adolescentes em escolas públicas e pediu que cada estudante escrevesse um texto sobre si mesmo, criando um conjunto que combina imagem, autorrepresentação e escuta.
Em The Birmingham Project (2012), revisitou o atentado à Igreja Batista da 16ª Rua, em 1963. Bey produziu retratos que colocam lado a lado crianças da idade das vítimas e adultos da idade que teriam hoje — uma estrutura simples, mas contundente, que evidencia a passagem do tempo e a permanência do trauma histórico.
Em Night Coming Tenderly, Black (2017), voltou-se para paisagens do norte de Ohio associadas ao Underground Railroad. São imagens de tons profundos, quase monocromáticos, que tratam a escuridão como estratégia visual e histórica, deslocando o foco do retrato para a experiência espacial.
Bey publicou diversos livros, entre eles Dawoud Bey on Photographing People and Communities (Aperture, 2019), da série Photography Workshop. A obra sintetiza princípios centrais de sua prática: responsabilidade, clareza ética e construção de relações reais com os fotografados.
Ao longo de cinco décadas, Bey consolidou-se como um fotógrafo interessado em dignidade, contexto e precisão. Sua relação com temas ligados à justiça social não se traduz em slogans, mas em método: aproximar-se, observar com cuidado e produzir retratos que devolvem às pessoas a sua complexidade.
- Summer Series: Catherine Opie e Dawoud Bey (Anderson Ranch Arts Center - jul/2025);
- Dawoud Bey fala sobre história americana e sobre enxergar com profundidade (National Gallery of Art Talks - Mar/2023);
- Fotolivro "Street Portraits" (Mack - Abr/2021);
- Aperture homenageia Dawoud Bey no Gala 2023;
- Exposição Dawoud Bey: An American Project (Whitney Museum e SFMOMA, 2021)
- Perfil no Whitney Museum com galeria de fotos;











No comments:
Post a Comment