Monday, November 17, 2025

SARAH MEISTER: BASTIDORES QUE MOLDARAM A FOTOGRAFIA CONTEMPORÂNEA

A história da fotografia não é feita apenas pelos fotógrafos que empunham a câmera, mas também pelos curadores que decidem como essas imagens serão vistas, interpretadas e lembradas. Nesse território de bastidores decisivos, Sarah Meister ocupa um lugar singular.

Nascida em 1971, Meister ingressou no Museum of Modern Art de Nova York em 1997, onde construiu uma carreira sólida até se tornar curadora de fotografia. Sua atuação foi marcada por um olhar atento tanto ao cânone quanto às margens, revisitando nomes consagrados como Walker Evans, Dorothea Lange e Gordon Parks, mas sempre buscando novas leituras capazes de conectar passado e presente. Em 2020, por exemplo, foi responsável pela grande retrospectiva “Dorothea Lange: Words & Pictures”, a primeira dedicada à fotógrafa no MoMA desde 1966. A mostra, que reunia mais de uma centena de obras e documentos, teve parte de sua recepção comprometida pela pandemia, mas permanece como um marco de seu trabalho curatorial.

Durante o período em que esteve no MoMA, Meister também construiu uma ponte rara e consistente entre a instituição e a fotografia brasileira. Esse vínculo se materializou em iniciativas que marcaram época:

  • Aquisições importantes: articulou a entrada de obras de fotógrafos brasileiros no acervo, não apenas os óbvios (como Sebastião Salgado e Claudia Andujar), mas também nomes menos conhecidos internacionalmente, como Luiz Braga e Marc Ferrez.

  • Exposição e publicações: foi co-curadora de “Fotoclubismo: Brazilian Modernist Photography, 1946–1964” (2021), uma das mostras mais relevantes sobre fotografia brasileira já realizadas fora do país. O projeto trouxe à tona o Foto-Cine Clube Bandeirante, destacando sua conexão com as vanguardas internacionais e, ao mesmo tempo, sua identidade própria.

  • Trabalho de pesquisa de longo prazo: sua dedicação não se limitou a uma mostra pontual; envolveu pesquisa em arquivos, contatos com fotógrafos, colecionadores e curadores brasileiros, além de palestras no Brasil.

  • Ampliação de narrativas: incluir a fotografia brasileira, para Meister, não era gesto de correção geopolítica, mas reconhecimento de uma modernidade visual que dialoga diretamente com o centro, embora muitas vezes mantida à margem das histórias oficiais.

A partir de 2021, com sua saída do MoMA, Meister entrou em uma nova fase. Assumiu a direção executiva da Aperture Foundation, uma das instituições mais influentes na circulação e no pensamento da fotografia contemporânea. Essa mudança marcou não apenas um deslocamento institucional, mas também uma ampliação de sua atuação. Na Aperture, Meister passou a lidar com um ecossistema mais amplo: publicações, bolsas, programas educativos, podcasts, formação de público — e, sobretudo, a construção de um espaço editorial que articula múltiplas geografias da imagem.

Sob sua liderança, a Aperture reforçou o interesse por narrativas globais, ampliou parcerias internacionais e modernizou seus programas de apoio a artistas. A instituição passou a operar com uma atenção renovada ao diálogo entre arquivos históricos e produção contemporânea, sem perder o rigor crítico que caracteriza suas edições. Meister transformou a fundação em uma plataforma que não apenas apresenta trabalhos, mas também pensa a fotografia — seus contextos, suas disputas simbólicas, seus futuros possíveis.

Ao longo de sua trajetória, tanto no MoMA quanto na Aperture, Sarah Meister demonstrou que a fotografia se constrói tanto diante da câmera quanto nas escolhas que moldam sua circulação. Seus gestos curatoriais não apenas preservaram a história, mas também a ampliaram — redesenhando fronteiras, reposicionando olhares e garantindo que outras geografias da fotografia passem a ocupar o centro da narrativa.

Com German Lorca

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