Friday, January 31, 2025

A CÂMARA ESCURA

 



A câmara* escura é um fenômeno natural no qual a passagem de luz por um furo para dentro de um espaço escuro projeta uma imagem na superfície que ela atinge. Isso resulta em uma projeção invertida vertical e horizontalmente da vista do lado de fora. 

Antes da invenção da fotografia propriamente dita, muitas de suas características fundamentais já eram conhecidas: Aristóteles descobriu o princípio da câmara escura no século IV a.C., mas foi o cientista árabe Alhazen que, no início do século XI, descreveu em detalhes o funcionamento desse princípio ótico. 

Entre 1400 e 1900, muitas variáveis da câmara escura haviam sido inventadas, algumas inclusive eram salões enormes oferecidos para o público como atrações turísticas!

Os primeiros modelos consistiam em grandes salas escuras com um pequeno furo em uma das paredes. Com o tempo, no entanto, foram aperfeiçoadas e repensadas e  deixaram de ser apenas um ambiente escuro para se tornarem dispositivos portáteis que permitiam a pintores e cientistas usá-los em campo. No século XVII, a câmara escura ganhou versões menores, semelhantes a caixas de madeira. Algumas incluíam espelhos inclinados que refletiam a imagem projetada para uma superfície superior, possibilitando que artistas traçassem os contornos que desejassem com mais facilidade. Na Renascença, artistas como Leonardo da Vinci e Jan Vermeer usavam câmaras escuras para criar esboços mais precisos de suas pinturas. A partir daí, aos poucos, seu uso se tornou mais difundido e popular.

A mágica por trás da câmara escura está na ótica. A luz viaja em linha reta e, quando passa por um pequeno furo, os raios do topo e da parte de baixo da cena externa se cruzam, projetando uma imagem invertida na superfície oposta. Ao adicionarmos uma lente a esse orifício, obtemos imagens ainda mais nítidas. Esse princípio é o mesmo que rege o funcionamento das câmeras fotográficas atuais. 
Por séculos, a câmara escura serviu apenas para projetar imagens efêmeras, que desapareciam conforme a luz mudava. 

Para se chegar a um equivalente à fotografia então, era preciso encontrar alguma substância sensível à luz, bem como uma forma de fixar essas imagens projetadas, mas esse é um assunto para um post futuro. A câmara escura não inventou a fotografia, mas sem ela, talvez nunca tivéssemos aprendido a capturar a luz.

*Fiquei em dúvida se seria melhor escrever câmera ou câmara nessa postagem. Optei por câmara (sala ou compartimento - o que faz sentido, já que as primeiras eram literalmente um cômodo todo!) que é a forma correta ao invés de câmera que foi adotado do inglês para designar equipamentos fotográficos.


A câmara escura gigante do Exploratorium em São Francisco
Faça uma câmara escura de papelão (no site tem o PAP com moldes):
Capturando as imagens de uma câmara escura (com uma DSLR):
Transformamos esse caminhão em uma câmera escura gigante!


Thursday, January 30, 2025

CHICO ALBUQUERQUE

 

Chico Albuquerque (1917-2000) foi um dos grandes nomes da fotografia brasileira, pioneiro na publicidade e mestre do retrato. Seu olhar sofisticado e sua técnica apurada ajudaram a definir a identidade visual de marcas e personagens ao longo do século XX.
Nascido em Fortaleza, Albuquerque começou ainda jovem na fotografia, incentivado por seu pai que era cinegrafista. Seu talento logo o levou ao cinema, onde participou como fotógrafo de cena do filme "It's All True" (1941), projeto inacabado de Orson Welles.
Na década de 1950, consolidou-se como um dos precursores da fotografia publicitária no país, trabalhando em São Paulo e colaborando com grandes agências. Sua produção, no entanto, foi além da publicidade: seus retratos carregam uma sensibilidade única e seu olhar para o cotidiano se reflete em séries marcantes, como as imagens que fez dos jangadeiros cearenses.
Trabalhou na Editora Abril nas décadas de 1950 e 1960, contribuindo com sua expertise na fotografia publicitária e editorial. Ajudou a consolidar o padrão visual das revistas da Abril, que estavam em ascenção na época. Sua habilidade em iluminação, composoção e narrativa visual foi essencial para a identidade visual da editora, que se tornaria uma das mais influentes do Brasil. 
Albuquerque também foi membro do Fotoclube Bandeirante (hoje Foto Cine Clube Bandeirante) e, embora não tenha sido um membro tão ativo como German Lorca ou Thomaz Farkas, foi influente lá dentro. 
Com uma carreira que atravessou décadas e influenciou gerações, Chico Albuquerque soube unir precisão técnica e força narrativa, deixando um legado incontornáve para a fotografia brasileira. 

Galeria de fotos no Pinterest.

  • Recuperação das fotos de Chico Albuquerque no IMS:

  • Mucuripe - Postais - Chico Albuquerque:
  • PERFIL | Chico Albuquerque: Revelações:


Links interessantes:

Wednesday, January 29, 2025

TONY RAY-JONES

  

 "Don't take boring pictures." (Tony Ray-Jones)
(post do blog antigo, escrito em 2017)
Tony Ray-Jones nasceu em 1941 em Wells, Sommerset na Inglaterra. Estudou na London School of Printing, onde se dedicou ao design gráfico. Em 1960, obteve uma bolsa de estudos que o possibilitou ir estudar nos EUA, na escola de arte de Yale. Aos dezenove anos, seu talento já era óbvio e, em 1963, fez trabalhos para as publicações Car and Drive e Saturday Evening Post.

Nos EUA, trabalhou com o diretor de arte Alexey Brodovitch no estúdio de Richard Avedon e conheceu vários fotógrafos de rua, como Joel Meyerowitz. Se formou em 1964, até seu retorno à Inglaterra, fotografou os EUA de forma intensa. 

Ao chegar em seu país, ficou decepcionado com a falta de interesse na fotografia não comercial e não tinha muita certeza a respeito de qual assunto perseguir. A ideia de fotografar os ingleses em seu momento de lazer começou a tomar forma e, enquanto fazia trabalhos comerciais para o Radio Times e outros jornais e revistas, se dedicou a esse projeto. Na ediçao de outubro de 1968 da revista Creative Camera, Ray-Jones descreveu o que pretendia alcançar, que era comunicar algo sobre o espírito e a mentalidade dos ingleses, seus hábitos e estilo de vida e a ironia que existe na maneira como fazem as coisas.

De acordo com o Wikipedia, Ray-Jones foi influenciado por Cartier-Bresson, Garry Winogrand, Homer Skyes e Sir Benjamin Stone. Por duas vezes tentou, sem sucesso, se juntar à agência Magnum e é citado por Martin Parr como sendo sua maior influência.

Em 1972, Ray-Jones foi diagnosticado com leucemia e começou a fazer quimioterapia. Morreu no dia 13 de março daquele ano. Seu arquivo está localizado no National Media Museum em Bradford, na Inglaterra e consiste em 700 fotografias, 1.700 folhas de negativos, 2.000 folhas de contato, 10.000 transparências coloridas, além de seus cadernos e correspondência.
Vídeos interessantes:

  • Fotolivro American Colour:

Tuesday, January 28, 2025

W. EUGENE SMITH

 

"Na construção de uma história, começo com meus proóprios preconceitos, marco-os como preconceitos e começo a buscar novos pensamentos, as contradições aos meus preconceitos. O que quero dizer é que você não pode ser objetio até tentar ser justo".
(W. Eugene Smith)

W. eugene Smith (1918-1978) é uma figura emblemática na história da fotografia documental. Nascido em Wichita, Kansas, começou sua carreira fotografando para jornais locais e rapidamente se destacou por sua abordagem comproetida e sensível.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Smith trabalhou como correspondente fotográfico para a revista Life, produzindo imagens impactantes do fronto. Seu compromisso em capturar a humanidade no coas da guerra culminou em fotografias icônicas, bem como lhe rendeu ferimentos graves enquanto documentava o conflito no Pacífico. 
Após a guerra, Smith redefiniu o fotojornalismo com seus ensaios fotográficos para a revista Life. Entre eles, destacam´se "Country Doctor" (1948), que retrata o cotidiano de um médico no interior do Colorado, e "Nurse Midwife" (1951) sobre a atuação de uma enfermeira parteira nos EUA. Sua obra-prima "Minamata" (1971-1973) denunciou os efeitos devastadores do mercúrio despejado em águas japonesas, revelando a força da fotografia como ferramenta de justiça social.
Smith era perfeccionista, tanto na captura quanto na edição de suas imagens. Suas narrativas visuais, frequentemente acompanhadas por textos detalhados, elevaram o status da fotografia documental a uma arte e um veículos de conscientização social. 
Seu legado é uma mistura de empatia e determinação, demonstrando que imagens têm o poder de contar histórias que ecoam muito além do momento capturado. 

Veja o board do Pinterest com fotografias de W. Eugene Smith.

Vídeos interessantes:

  • O fotógrafo da Magnum mais influente de todos os tempos // W. Eugene Smith

  • W. Eugene Smith: Uma vida em imagens (entrevista com Aileen Mioko Smith - 2023)
  • Palestra de abertura de "W. Eugene Smith: Uma vida em imagens" com Rebecca Senf e Q&A com Kevin Smith:


Links interessantes:

NAN GOLDIN

 

"My work has always come from empathy and love. I can't photograph anyone that I think is ugly or disturbs me or out of anger." (Nan Goldin)

(Escrito originalmente no blog antigo em 2017)
Nan Goldin nasceu em Washington DC em 1953 e atualmente vive e trabalha em Nova York, Paris e Berlim. Nasceu em uma família judaica de classe média e cresceu nos subúrbios de Boston. Teve o primeiro contato com uma câmera aos quinze anos (1968). Sua irmã havia se suicidado quando Goldin tinha onze anos e, por conta disso, chegou a ser usuária de drogas. A fotografia, no entanto, mudou sua vida para sempre.

Suas influências foram os filmes iniciais de Andy Warhol, Federico Fellini, Jack Smith, as Vogues francesa e italiana e os fotógrafos de Moda Guy Bourdin e Helmut Newton. Seus temas, em geral, são ligados à sexualidade, relacionamentos e ao mundo LGBT.

Goldin afirma que, aos dezoito anos "se apaixonou pelas drag queens mas, ao invés de analisá-las e expô-las como faziam outros fotógrafos, admirava e respeitava sua sexualidade". Tinha o desejo de retratá-las como um terceiro gênero, mostrar a liberdade de serem o que eram e sempre com respeito e amor a elas. Admitiu ter sido apaixonada por uma drag queen nesse período.

Depois de se formar, mudou-se para Nova York, onde documentou a cena new wave pós-punk no final dos anos 1970 e início de 1980, em especial, a subcultura do uso de drogas pesadas no distrito de Bowery. 

Essas fotografias foram feitas entre 1979 e 1986 e foram parte de seu conhecido trabalho chamado "The ballad of sexual dependency", que mostrava uso de drogas, casais agressivos e momentos autobiográficos. 
(videos aqui)

A maioria dos retratados - amigos e conhecidos de Goldin - estava morta até o começo de 1990, por overdose ou AIDS. Esse trabalho foi o que definiu a vida da fotógrafa, sendo o de maior importância de sua carreira. Muitas pessoas se escandalizaram com ele, muitos achavam que ele tinha como objetivo ridicularizar e expor os LGBTs, mas Goldin afirma que a ideia era apenas mostrar a realidade do mundo em que vivia. Segundo ela, ele diz respeito às dificuldades nos relacionamentos e mostrar por que, segundo ela, relacionamentos entre homens e mulheres não funcionam (ela é bissexual). Para ela era inadimissível alterar um objeto que fosse na cena, retratava os ambientes exatamente como estavam. Basicamente, "The ballad..." é um diário visual que mostra as dificuldades de relacionamentos entre as pessoas de sua "tribo", a quem Goldin muitas vezes se refere como sua "família".
O livro "Eden and after", de 2014 é uma coleção de retratos que Goldin tirou de crianças. Ela diz que tem muita curiosidade a respeito do fato de não nos lembrarmos de nada até os três ou quatro anos e que, enquanto produzia esse livro, chegou a acreditar que crianças vinham de outro planeta. É muito interessada na androginia das crianças e na ideia de muitas vezes não sabermos qual o sexo de uma pessoa até a mesma tirar a roupa. Seu trabalho chegou a ser vetado no Brasil por misturar sexualidade e crianças. 
Como outros fotógrafos, goldin também fez fotografia comercial de moda para grifes internacionais, como a Bottega Veneta, Jimmy Choo. Dior e outros. 
Links interessantes: