"É no cotidiano que está a verdadeira beleza da vida. Não acredito que se precise de um fato excepcional para fotografar. O que tem que ser excepcional é o resultado do seu trabalho." - Luiz Braga
Nascido em Belém do Pará, em 1956, Luiz Braga começou sua carreira na década de 1970 e, desde então, construiu um dos olhares mais marcantes da fotografia brasileira. Autodidata, experimentou diversas abordagens até encontrar sua identidade visual na combinação entre luz natural e artificial, criando imagens que flutuam entre o real e o onírico.
Seu grande diferencial veio do uso expressivo da cor. Se por muito tempo a fotografia documental brasileira foi dominada pelo preto e branco, Braga seguiu um caminho contrário. Suas cores saturadas, com predominância de tons quentes e contrastes acentuados, trazem uma estética quase pictórica. Isso fica evidente em sua série de retratos da população ribeirinha, onde cada imagem parece iluminada por dentro, revelando a força e a identidade dos fotografados.
Um dos aspectos mais fascinantes do trabalho de Luiz Braga é seu compromisso com a vida amazônica. Ele não se posiciona como um mero observador distante, mas como alguém que faz parte daquele universo. Sua obra revela personagens anônimos da periferia de Belém, pescadores, crianças brincando nos rios, festas populares e rituais religiosos – sempre com uma proximidade que transparece respeito e empatia.
Braga não idealiza a Amazônia como um paraíso exótico; pelo contrário, ele nos apresenta uma Amazônia vivida, cheia de contrastes, entre a luz quente das lâmpadas fluorescentes e a penumbra das noites à beira d'água. Seus retratos noturnos são especialmente icônicos, criando um jogo entre sombras e cores que transportam o espectador para uma atmosfera quase mágica.
O trabalho de Luiz Braga já foi exibido em diversas exposições nacionais e internacionais, incluindo a Bienal de São Paulo e a Bienal de Veneza. Seu olhar sobre a Amazônia rompe estereótipos e apresenta uma realidade longe do clichê tropical, trazendo à tona a cultura popular e o cotidiano de um Brasil muitas vezes invisibilizado.
Sua influência é evidente na nova geração de fotógrafos brasileiros que buscam, assim como ele, retratar suas realidades com autenticidade e sem filtros reducionistas. Luiz Braga nos ensina que a fotografia documental pode ser, ao mesmo tempo, fiel à realidade e profundamente poética.
"A câmera é um instrumento que ensina as pessoas a ver sem câmera." – Paul Strand
Se a fotografia moderna tem um nome que ajudou a definir seus rumos, esse nome é Paul Strand. Nascido em 1890, em Nova York, ele atravessou quase um século de transformações visuais e sociais, deixando um legado incontestável. Seu trabalho influenciou não apenas fotógrafos, mas também cineastas e artistas plásticos.
Strand começou sua jornada na fotografia ainda jovem, estudando com Lewis Hine na Ethical Culture School. Foi Hine quem o apresentou a Alfred Stieglitz, uma figura central no movimento da fotografia artística nos EUA. No início do século XX, Stieglitz promovia a ideia de que a fotografia poderia ser uma forma de arte independente, e Paul Strand absorveu essa visão com entusiasmo.
No entanto, ao contrário da estética pictorialista dominante na época, que buscava uma aproximação com a pintura, Strand seguiu por um caminho mais direto e objetivo. Inspirado pelo cubismo e pelo modernismo europeu, ele ajudou a estabelecer uma nova linguagem visual para a fotografia.
Uma das marcas registradas de Paul Strand era sua habilidade em equilibrar o documental e o artístico. Seu trabalho transitava entre retratos fortes, composições abstratas e cenas do cotidiano. Sua famosa fotografia de 1916, Blind Woman, é um exemplo poderoso de seu olhar humanista e inovador. Além disso, explorou padrões e formas geométricas de maneira única. Fotografava desde a arquitetura das cidades até objetos simples, revelando uma harmonia estrutural que muitos não percebiam a olho nu. Esse olhar influenciou gerações de fotógrafos que vieram depois.
Nos anos 1920, Strand ampliou sua atuação para o cinema. Co-dirigiu o filme Manhatta (1921), um dos primeiros exemplos de cinema experimental nos EUA, inspirado pelo poema Leaves of Grass, de Walt Whitman. Mais tarde, em um contexto de crescente tensão política, dedicou-se a documentar comunidades ao redor do mundo, sempre com um olhar voltado para as questões sociais.
Durante os anos 30 e 40, em meio ao clima político turbulento nos Estados Unidos, suas convicções progressistas fizeram com que ele se afastasse do país. Eventualmente, estabeleceu-se na Europa, onde continuou seu trabalho até sua morte, em 1976.
Paul Strand transformou a fotografia documental em algo mais do que um simples registro. Ele provou que uma fotografia pode ser direta e, ao mesmo tempo, profundamente expressiva. Seu trabalho abriu caminho para que a fotografia fosse reconhecida como uma forma de arte legítima e respeitada.
Hoje, suas imagens continuam a inspirar fotógrafos e artistas visuais ao redor do mundo. Seja nos retratos humanistas, nas composições geométricas ou na relação entre fotografia e cinema, Strand permanece como um dos nomes mais importantes da fotografia moderna.
FOTOLIVROS
Olhar direto (canal de Rafael Bosco Vieira no YouTube): Catálogo da exposição realizada em 2009 no Instituto Moreira Sales em parceria com a Aperture Foundation;
Neste vídeo do V&A Museum, é mencionado que Strand usou uma lente disfarçada para fotografar sem que as pessoas percebesse,. Era uma espécie de periscópio, que desviava a atenção do que a câmera realmente estava apontando - permitindo então que ela fosse apontada para o lado enquanto, na verdade, estava fotografando algo ou alguém em outra direção. Devia ser algo parecido com isso aqui.
Strand usou essa técnica em algumas de suas fotos mais icônicas, como Blind Woman (1916), para capturar retratos autênticos e espontâneos sem que os fotografados posassem ou percebessem que estavam sendo fotografados.
Excelente comentário sobre a carreira de Strand (The Art of Photography):
O retrato fotográfico surgiu no século XIX como uma
alternativa acessível à pintura e rapidamente se popularizou. Com o avanço das
técnicas e a redução dos tempos de exposição, fotógrafos começaram a explorar
não apenas a representação fiel dos sujeitos, mas também a expressão artística
e documental. Alguns buscaram capturar a essência das pessoas com abordagens
mais poéticas, enquanto outros utilizaram o retrato para revelar aspectos
sociais e históricos. No início do século XX, o gênero se consolidou como uma
ferramenta poderosa para a arte, a publicidade e a documentação da sociedade,
abrindo caminho para novas abordagens na fotografia. Eis alguns dos nomes mais
importantes da fotografia de retratos dessa época
Julia Margaret
Cameron (1815–1879)
"Ansiava capturar toda a beleza que surgia diante de mim e, por fim, esse anseio foi satisfeito." - Julia Margaret Cameron
Nasceu em Calcutá, na Índia, e viveu grande parte de sua
vida na Inglaterra. Começou a fotografar aos 48 anos, quando ganhou uma câmera
de presente, e rapidamente desenvolveu um estilo único. Suas imagens eram
marcadas por um foco suave, iluminação dramática e composições inspiradas na
pintura pré-rafaelita. Cameron acreditava que a fotografia deveria capturar a
essência e a alma dos retratados, e seu trabalho incluía tanto retratos de
familiares e amigos quanto de grandes intelectuais da época, como Charles
Darwin e Alfred Tennyson. Apesar de ter sido criticada por sua técnica pouco
convencional, sua abordagem inovadora influenciou gerações de fotógrafos e
consolidou o retrato como uma forma de arte expressiva.
Nadar (Gaspard-Félix Tournachon) (1820–1910)
"O retrato que faço melhor é da pessoa que conheço melhor."
Foi um dos primeiros grandes fotógrafos de retrato e uma figura fascinante do século XIX. Nascido em Paris, começou sua carreira como caricaturista e escritor antes de se dedicar à fotografia. Sua abordagem inovadora no uso da luz e da pose resultou em retratos expressivos de grandes personalidades da época, como Victor Hugo, Sarah Bernhardt e Alexandre Dumas. Além de seu trabalho no estúdio, foi um pioneiro na fotografia aérea e na exploração de fotografias subterrâneas nas catacumbas de Paris. Seu legado está na maneira como elevou o retrato fotográfico a um nível artístico, criando imagens atemporais que capturam não apenas a aparência, mas também o caráter de seus sujeitos.
Gertrude Käsebier (1852–1934)
"A chave para a fotografia artística é desenvolver seus próprios pensamentos, por conta própria."
Foi uma das primeiras fotógrafas a conquistar reconhecimento no mundo da arte, destacando-se por seus retratos sensíveis e intimistas. Nascida em Iowa, nos Estados Unidos, estudou pintura antes de se dedicar à fotografia. Sua abordagem suave, com uso delicado da luz natural e tons sutis, trouxe uma dimensão emocional aos retratos, muitas vezes focados em mulheres e crianças. Käsebier foi uma figura importante no movimento pictorialista e integrou o grupo Photo-Secession, liderado por Alfred Stieglitz. Seu trabalho ajudou a estabelecer a fotografia como uma forma legítima de arte e abriu caminho para outras mulheres na profissão.
Lewis Hine
(1874–1940)
"Se pudesse contar a história em palavras, não precisaria carregar uma câmera."
Foi um sociólogo e fotógrafo americano que usou a câmera
como ferramenta de mudança social. Nascido em Wisconsin, trabalhou como professor antes de se dedicar à fotografia documental. No início do século XX,
viajou pelos Estados Unidos registrando as condições precárias dos
trabalhadores imigrantes e das crianças exploradas pelo trabalho infantil. Suas
imagens, muitas vezes compostas de forma dramática para enfatizar a dignidade e
a força dos retratados, foram essenciais para a criação das primeiras leis trabalhistas
americanas. Além de seu impacto social, Hine também foi um mestre da composição
e da luz, tornando seus retratos não apenas documentos históricos, mas também
obras de grande força estética.
August Sander
(1876–1964)
"Na fotografia, não há sombras sem explicação!"
Foi um fotógrafo alemão conhecido por seu projeto monumental
People of the 20th Century, uma tentativa de catalogar a sociedade alemã
por meio do retrato. Nascido em Herdorf, trabalhou como fotógrafo de paisagens
e retratos comerciais antes de desenvolver sua abordagem sistemática e
tipológica da fotografia. Seus retratos buscavam representar diferentes classes
e profissões, desde agricultores e operários até artistas e intelectuais,
sempre com uma composição rigorosa e um olhar objetivo. Durante o regime
nazista, seu trabalho foi censurado, pois não se alinhava à propaganda do
governo. Mesmo assim, sua obra influenciou profundamente a fotografia
documental e o retrato contemporâneo, servindo como referência para gerações de
fotógrafos. Eu falei mais sobre August Sander nesse post aqui.
Os fotógrafos mencionados aqui ajudaram a moldar a
história do retrato fotográfico, explorando tanto sua dimensão artística quanto
documental. Suas abordagens influenciaram gerações e abriram caminho para novas
possibilidades dentro do gênero. À medida que entramos no século XX, a
fotografia de retrato se expande ainda mais, acompanhando as mudanças sociais,
culturais e tecnológicas da época. No próximo post, veremos como fotógrafos
modernos continuaram a redefinir o retrato, experimentando novas linguagens e
consolidando a fotografia como uma forma de expressão cada vez mais poderosa.
"A fotografia não precisa imitar a pintura para ser arte. Ela já tem sua própria gramática visual." - John Szarkowski
John Szarkowski nasceu em 1925 e, antes de se tornar uma das figuras mais importantes da história da fotografia, começou sua carreira como fotógrafo. Seu impacto real, no entanto, não veio por meio de suas imagens, mas por sua capacidade de enxergar e destacar o portencial da fotografia como arte.
Ele foi escolhido para assumir a curadoria de fotografia do MoMA, em 1962, substituindo Edward Steichen e essa mudança de guarda marcou uma nova fase. Steichen havia impulsionado a fotografia dentro dos museus, mas ainda de forma associada ao documentarismo, ao fotojornalismo e a exposições populares como The Family of Man (1955). Szarkowski, por sua vez, tinha outra visão: queria mostrar que a fotografia tinha uma linguagem própria e não precisava se apoiar em outras formas de arte ou no conteúdo documental para ser levada a sério.
A partir daí, Szarkowski ajudou a redefinir o que era considerado fundamental na fotografia, não apenas organizando exposições importantes, mas também lançando ou consolidando a carreira de alguns dos maiores nomes do século XX, como Stephen Shore, Diane Arbus, Lee Friedlander, Garry Winogrand e William Eggleston.
Ao contrário da abordagem mais humanista de Steichen, Szarkowski enfatizava a estrutura e a forma da imagem. Não queria apenas fotos que contassem histórias, mas imagens que revelassem algo sobre o olhar do fotógrafo e sobre a própria linguagem fotográfica.
No livro The Photographer's Eye, ele argumenta que a fotografia tem elementos visuais únicos que a diferenciam de outroas formas de arte, como a maneira de recortar e reorganizar a realidade. Em Looking at Photographs, a fotografia não precisava imitar a pintura ou seguir os moldes do jornalismo para ser levada a sério. Ela tinha sua própria gramática visual e isso era suficiente.
Mais do que um curador, ele foi um intérprete da fotografia, fazendo o mundo ver que uma grande fotografia não era apenas um documento do real, mas um recorte subjetivo, um pensamento visual. No final das contas, talvez a melhor forma de medir seu impacto seja simplesmente olhar para a fotografia como ela é hoje e perceber que a consideramos arte sem hesitação e isso é porque ele nos ensinou a vê-la assim.
ANTES DO MOMA
Antes de se tornar uma das figuras mais importantes da curadoria fotográfica, Szarkowski teve uma carreira como fotógrafo. Começou fotografando paisagens e arquitetura, dois temas que marcaram seu olhar desde cedo. Seu ptimeiro livro, The Idea of Louis Sullivan (1956), já mostrava esse interesse, explorando a obra do arquiteto que ajudou a definir a estética dos arranha-céus modernos.
Também publicou The Face of Minnesota (1958), um projeto encomendado para celebrar o centenário do estado, onde combinou paisagens, retratos e cenas do cotidiano. Esse trabalho tinha um viés documental, o que revela uma conexão com Walker Evans que era um fotógrafo que Szarkowski admirava profundamente e que, mais tarde, ajudaria a consolidar no MoMA. Evans, conhecido por sua fotografia direta e sua visão crítica da cultura americana, teve uma grande influência na maneira como Szarkowski via a fotografia - não apenas como um registro, mas como um comentário visual sobre o mundo.
Seu interessepela fotografia de arquitetura foi algo que permaneceu ao longo da vida. Ele via os edifícios como uma forma de expressão visual e entendia a fotografia como um meio de traduzir essa linguagem espacial em imagens bidimensionais. Sua paixão por Louis Sullivam, pioneiro da arquitetura moderna nos EUA, refletia esse fascínio. Ele via a arquitetura de Sullivan como uma síntese entre funcionalidade e estética, algo que também buscava na fotografia: a união entre forma e significado.
Apesar de ter deixado a fotografia autoral em segundo plano ao assumir o MoMA, Szarkowski sempre manteve esse olhar apurado para composição, estrutura e narrativa visual - características que marcaram tanto seu trabalho como fotógrafo quanto sua influência como curador.
JANELA OU ESPELHO? AS DUAS FORMAS DE VER A FOTOGRAFIA
Szarkowski usou essas duas metáforas para descrever duas abordagens distintas dentro da fotografia.
Fotógrafos "janela" tratam a fotografia como um meio de observar e registrar o mundo. Suas imagens funcionam como um recorte da realide, quase como se o espectadore estivesse olhando por uma janela para algo que realmente aconteceu. Esse conceito se conecta ao fotojornalismo e à fotografia documental, onde a autenticidade e o regsitro do real são fundamentais.
Fotógrafos "espelho" enxergam a fotografia como um reflexo da subjetividade de artista. Aqui a câmera não apenas registra o mundo, mas expressa sentimentos, ideias e visões pessoas. A fotografia se torna mais interpretativa, introspectiva e, muitas vezes, experimental.
Szarkowski não via uma abordagem como superior à outra - ambas fazem parte da riqueza da fotografia.
Vídeos interessantes:
Estabelecendo a fotografia como arte (Developing Tank):
Fotógrafos "janela" e fotógrafos "espelho" (David García-Amaya):
Szarkowski: como ver (história da fotografia com Jeff Curto, ep.14):
Comentário sobre o livro Olhando para Fotografias (podcast Históra da Fotografia ep.6):
O fotógrafo John Szarkowski por Kai McBride:
Szarkowski dominou a fotografia por três décadas (Graeme Williams):
A exposição que mudou a fotografia moderna - New Documents em 1967
Fotolivro O Olho do Fotógrafo (Andras Ikladi):
Trailer de "A Vida na Fotografia" - transcrição do conselho de Szarkowski para seus alunos: "Eu digo para os meus alunos 'você não pode esperar até ter uma grande ideia, porque não é uma grande ideia até você se aprofundar nela. Comece a trabalhar em algo no qual tenha pelo menos algum interesse - ou que ache que possa se interessar - e explore o assunto. Se for o assunto certo para você, vai ficar mais interessante conforme você trabalhar nele e, quanto mais você trabalhar nele, mais interessante ele irá se tornar para você. Você não consegue resolver problemas artísticos na sua cabeça e, em seguida, executá-los. Na arte verdadeira você nunca sabe qual é a resposta, você tem que insistir no assunto e, quando não conseguir mais ir adiante, conclui que deve ter encontrado a resposta.'"
"A cidade me interessa mais que seus habitantes. Tento entender a cidade como um organismo vivo, que carrega marcas do tempo e das pessoas que por ali passaram." - Cristiano Mascaro
Cristiano Mascaro nasceu em 1944 em Catanduva, interior de São Paulo. Inicialmente formado em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP, encontrou na fotografia um meio de traduzir a complexidade das cidades e sua arquitetura. Seu olhar é meticuloso e sensível, sempre buscando revelar a poesia escondida nas estruturas urbanas. Mascaro não se interessa apenas pelo óbvio ou monumental, mas também pelo cotidiano arquitetônico que passa despercebido - os becos, os galpões abandonados, os vestígios de uma cidade que se reinventa constantemente.
Sua jornada na fotografia começou quando ele ingressou como fotojornalista na Veja, onde trabalhou de 1968 a 1982. Sua vocação real, no entanto, estava na fotografia documental e na observação arquitetônica, levando-o a um caminho independente. Influenciado por nomes como Marcel Gautherot e Henri Cartier-Bresson, Mascaro desenvolveu um estilo que alia precisão técnica e lirismo visual. Ele utiliza predominantemente a luz natural e privilegia o preto e branco que, segundo ele, intensifica a leitura dos espaços urbanos.
Seu trabalho já foi amplamente exposto no Brasil e no exterior, consolidando-o como um dos principais nomes da fotografia arquitetônica brasileira. Mascaro conquistou prêmios importantes como o Prêmio Internacional de Fotografia Eugène Atget, em 1984, e a Bolsa Vitae de Fotografia, em 1989. Além das exposições e livros publicados, sua obra também serve como referência para arquitetos, urbanistas e fotógrafos que buscam entender a relação entre o homem e o espaço construído.
"Acho que as fotografias devem ser provocativas e não dizer o que você já sabe. Não é preciso nenhum grande poder ou mágica para reproduzir o rosto de alguém na fotografia. A mágica está em ver as pessoas de novas maneiras." - Duane Michals
Duane Michals nasceu em 1932 em McKeesport, na Pensilvânia nos EUA. Ficou famoso por suas sequências fotográficas e pelo uso de textos escritos à mão diretamente sobre suas imagens. Diferente dos retratistas tradicionais, ele não se preocupava tanto com o realistmo ou com capturar um "momento decisivo", mas com contar histórias e expressar emoções através da fotografia. Misturava elementos de sonho, fantasia e teatralidade, criando imagens quase cinematográficas.
Formado em artes plásticas pela Universidade de Denver, Michals começou sua carreira na fotografia de forma autodidata nos anos 1950, enquanto trabalhava como designer grpafico. Durante uma viagem à União Soviética em 1958, começou a fotografar intensamente e, ao retornar, conseguiu suas primeiras publicações. Nos anos 1960, consolidou-se como fotógrafo editorial e comercial, colaborando com revistas como Esquire e Vogue.
Fotografou várias personalidades como René Magritte, de quem se declarava um grande admirador, Andy Warhol, de quem era próximo e Marcel Duchamp, sempre com um toque autoral e diferenciado. Sua influência se estende para além da fotografia, inspirando artistas visuais e cineastas.
O estilo de Michals se afastava do fotojornalismo e da fotografia documental, aproximando-se mais da arte conceitual. Muitas de suas fotos abordam temas como memória, identidade, amor e mortalidade. Um dos seus trabalhos mais famosos é Things are Queer, uma sequência de imagens que brinca com percepção e ilusão. Outra obra conhecida sua é Sequences, que consiste em narrativas fotográficas que desafiam a linearidade tradicional, explorando temas como identidade e existência.
"Se pudermos criar retratos de sujeitos que sejam verdadeiros, criaremos, assim, um espelho dos tempos."
August Sander (1876-1964) foi um dos grandes nomes da fotografia documental e um dos primeiros a usar o retrato como uma ferramenta de registro social. Nascido na Alemanha, começou a fotografar enquanto trabalhava em minas de carvão, onde um fotógrafo em serviço o introduziu à fotografia. Com o tempo, aprimorou sua técnica e abriu seu próprio estúdio, mas foi ao sair do ambiente controlado do ateliê e levar sua câmera para as ruas e campos alemães que encontrou seu propósito: retratar a sociedade de forma abrangente e sistemática.
Seu projeto mais ambicioso, Menschen des 20. Jarhunderts (Pessoas do Século XX), reuniu centenas de retratos de indivíduos dediferentes classes e ocupações, organizados em categorias (descritas mais adiante). Sander acreditava que era possível contar a história de um povo através dos rostos que o compunham, registrando não apenas as feições, mas também a posição social e o espírito da época. Seu estilo era direto e sem artifícios, evitando poses exageradas e buscando a máxima fidelidade à realidade.
Com a ascenção do nazismo, seu trabalho passou a ser visto como perigoso. O regime censurou suas fotografias por mostrar uma Alemanha diversa, longe do ideal propagado pelo governo. Em 1936, seu livro Antlitz der Zeit (O Rosto do Tempo), que reunia uma seleção de seus retratos, foi banido e as cópias foram confiscadas. Seu filho, Erich Sander, era ativista, foi preso e morreu na cadeia em 1944. Apesar disso, August Sander persistiu e continuou fotografando, mantendo seu acervo seguro até o fim da Segunda Guerra Mundial.
O reconhecimento de sua obra cresceu nas décadas seguintes e Pessoas do Século XX foi publicado postumamente, consolidando sua posição como um dos mais importantes fotógrafos da história. Seu método rigoroso e sua visão humanista influenciaram gerações de fotógrafos documentais e sua abordagem permanece atual: entender a fotografia como um testemunho da condição humana.
PESSOAS DO SÉCULO XX
August Sander organizou Pessoas do Século XX em uma estrutura sistemática que classificava os retratados por tipos sociais e ocupações. Ele acreditava que era possível criar um retrato coletivo da sociedade alemã ao fotografar diferentes grupos e suas funções dentro dela. O projeto foi dividido em sete categorias principais:
O Camponês (Der Bauer) - Considerado por Sander como a base da sociedade, este grupo retrata agricultores, trabalhadores rurais e suas famílias. Ele via os camponeses como um elo essencial com a tradição e cultura alemã.
O Artesão (Der Handwerker) - Compreendia trabalhadores manuais, como ferreiros, carpinteiros e padeiros. Esses retratos mostravam indivíduos com suas ferramentas de trabalho, destacando a importância do ofício na idetidade pessoal.
A Mulher (Die Frau) - Dedicado a retratos femininos, incluindo mulheres em diferentes papéis sociais, desde donas de casa até mulheres da alta sociedade e intelectuais.
Os Tipos Sociais e as Profissões (Die Stande) - Abrangia uma ampla variedade de trabalhadores urbanos, como médicos, advogados, engenheiros e funcionários públicos, além de artistas e intelectuais.
Os Artistas (Die Kunstler) - Retratava músicos, escritores, pintores e outros profissionais do meio artístico, muitos deles ligados aos movimentos de vanguarda da época.
A Grande Cidade (Die Grosstadt) - Focava na vida urbana e nos grupos marginalizados da sociedade, como desempregados, boêmios, sem-teto e pessoas vivendo às margens das normas sociais.
Os Últimos Homens (Die Letzten Menschen) - A categoria mais sombria, mostrando idosos, doentes, pessoas com deficiências e até mortos, refletindo a finitude da vida.
Essas divisões não eram rígidas e alguns retratos poderiam se encaixar em mais de uma categoria. O que torna Pessoas do Século XX tão relevante é que Sander não apenas registrava os rosto de sua época, mas também criava uma estrutura quase sociológica para compreender a sociedade através da fotografia.
Em 2015, o MoMA adquiriu todas as 619 fotografias que compõe Pessoas do Século XX
Antes de mergulhar nesse projeto, August Sander fotografou paisagens e arquitetura na região de Colônia, onde morava e fez também retratos de trabalhadores, registrando operários, artesãos e mineiros com um olhar documental. Retratou artistas e intelectuais da República de Weimar, criando um panorama da sociedade alemão antes da ascenção nazista. Depois do projeto enfrentou perseguições, perdeu parte do seu acervo na guerra e registrou vítimas do regime nazista, incluindo perseguidos políticos e judeus. Nos anos finais, dedicou-se a organizar e preservar sua obra.
"Se você quer entender meu trabalho, precisa entender minha vida." - Larry Clark
Larry Clark nasceu em Tulsa, Oklahoma, em 19 de janeiro de 1943, Seu primeiro contato com a fotografia veio através de sua mãe, que era fotógrafa itinerante e venda retratos de bebês de porta em porta. Ainda jovem, Clark começou a acompanhá-la no trabalho e aprendeu os fundamentos. Foi na adolescência, no entanto que sua relação com a câmera ganhou um tom mais pessoal, quando passou a documentar sua própria vida e a de seus amigos, muitos deles envolvidos com drogas e delinquência juvenil.
Em 1971 lançou Tulsa, um fotolivro que impactou o mundo da fotografia pela crueza com que retratava uma juventude mergulhada no consumo de heroína, na violência e no sexo sem filtro. O diferencial do trabalho era sua proximidade com os fotografados - Clark não era um observador de fora, mas um participante ativo daquele universo. O mesmo olhar visceral aparece em Teenage Lust (1983), seu segundo fotolivro, onde amplia o foco para a cultura jovem americana e suas contradições.
Após o impacto de Tulsa e Teenage Lust, Larry Clark levou sua estética crua e documental para o cinema. Seu primeiro filme, Kids (1995) - escrito por Harmony Korine que tinha apenas 19 anos - chocou ao retratar a vida de adolescentes em Nova York entre sexo, drogas e AIDS. O realismo brutal da narrativa dividou opiniões e consolidou Clark como um cineasta provocador.
A partir daí seguiu explorando temas semelhantes em filmes como Another Day in Paradise (1998), um drama sobre jovens criminosos, e Bully (2001), baseado em uma história real de assassinato entre adolescentes. Em Ken Park (2002), Clark levou ao extremo sua abordagem sem censura sobre a juventude, resultando em mais um filme controverso.
Nos anos seguintes, continuou a produzir filmes que misturavam realidade e ficção, frequentemente trabalhando com atores não profissionais e trazendo um olhar sem filtros sobre a marginalidade e a rebeldia juvenil. Mesmo criticado, Clark manteve sua assinatura visual e narrativa, deixando um legado inconfundível tanto na fotografia quanto no cinema independente.
Excelente resenha do livro "Tulsa" (CAMERA - Beyond the Image):
Extraordinário ou explorativo?
A adolescência permanente de Larry Clark:
Videoclip "solitary man" de Chris Isaac (péssimo cover da linda música de 1966 do Neil Diamond) que foi dirigido por Clark e foi o pontapé inicial para ele se tornar diretor de cinema:
Dior Homme: campanha da coleção de tênis de Kris Van Assche na primavera de 2017 que teve direção de Clark:
O dia em que as fotografias de Larry Clark foram vendidas por £100 em Londres (com comentário de Leo Fitzpatrick que trabalhou no filme Kids):