Essa frase está logo no começo do livro Humans of New York e
descreve o começo de todo mundo que se apaixona pela fotografia. Quando comprou
sua primeira câmera, Stanton vivia em Chicago onde trabalhava em tempo
integral, então fotografava nos finais de semana. No início, era o que conseguia
fazer: imagens espontâneas, registros das ruas, o básico de quem está entrando
nesse mundo, mas no meio de tudo o que fazia, descobria imagens que o
encantavam.
Um projeto que
cresceu com o fotógrafo
Depois de perder o emprego, resolveu apostar tudo na
fotografia. Viajou pelos EUA, postando os cliques no próprio álbum do Facebook.
Até que um dia foi para Nova York “só por uns dias” — e ficou por meses.
Começou fotografando pessoas de forma mais discreta, até que ganhou coragem
para abordá-las diretamente. Em pouco tempo, acumulou mais de 600 retratos.
Voltou para Chicago só para pegar suas coisas e se instalou na Big Apple de vez.
A ideia inicial do projeto era ambiciosa: criar dez mil
retratos conectados a um mapa interativo da cidade de Nova York. O plano
era que cada imagem pudesse ser clicada dentro desse mapa, formando uma espécie
de cartografia humana da cidade.
A força está nas
histórias
Em 2013, veio a primeira edição impressa de Humans of New
York. A partir dali, o que era um projeto pessoal virou um fenômeno.
Brandon criou uma página própria no Facebook e, rapidamente, reuniu meio milhão
de seguidores. Ele tem um jeito muito particular de retratar as pessoas: sempre
com empatia, leveza e um olhar que destaca o melhor delas. Não tem como não
gostar dos personagens que aparecem no livro. E é aí que está o coração do HONY
— não tanto nas imagens, mas nas histórias.
Um olhar afetuoso,
mesmo que tecnicamente imperfeito
Tecnicamente, o livro tem altos e baixos. Muita foto está
fora de foco, os enquadramentos nem sempre funcionam — e o uso quase obsessivo
do enquadramento central parece mais fruto da inexperiência do que uma
escolha estética. Mesmo assim, há uma intuição ali, uma percepção viva de que
algo importante está acontecendo. Às vezes ele junta uma sequência de imagens
pra contar melhor uma pequena história — e funciona. Outras vezes, escreve
direto nas fotos, o que é um recurso bacana… mas a fonte escolhida é desastrosa
(difícil de ler, esteticamente ruim — e olha que você releva porque a legenda
em si é boa).
A capa que não faz
jus ao conteúdo
Sendo muito honesta: a edição física do livro é bonita nas
mãos, mas decepcionante no design. A capa tem um mosaico de fotos sem apuro
visual — parece feita no improviso. E a proteção de capa, em papel vegetal
transparente, passa uma sensação mais amadora do que criativa. Para o tamanho e o
impacto do projeto, faltou um cuidado gráfico mais à altura.
Vale a pena?
Sim. Com tudo isso dito, Humans of New York segue sendo um dos livros mais queridos da minha coleção. Porque, mesmo com as falhas técnicas e gráficas, o livro acerta onde mais importa: no vínculo que cria entre quem fotografa, quem é fotografado e quem olha.
Stanton não é um mestre da composição, mas sabe muito bem o que está procurando. Ele guia o olhar com segurança, mesmo sem parecer controlar demais. E consegue o mais difícil: fazer com que a gente se importe com gente que nunca vimos antes.
Site oficial Humans of New York.