A gênese do projeto remonta a uma experiência pessoal. Em
dezembro de 2004, Tézenas passava férias no Sri Lanka quando foi surpreendido
pelo tsunami que devastou o sudeste asiático. A tragédia matou centenas de
milhares de pessoas, entre elas os passageiros do trem da rota Colombo–Galle,
arrastado pelas ondas e lançado selva adentro, onde seus vagões permaneceriam
como ruínas silenciosas de um desastre. Tézenas, alojado numa região elevada,
testemunhou de perto a devastação e o luto que se espalhou pelo país. Anos
depois, ao ler que os destroços daquele trem haviam se tornado ponto de
peregrinação, ele se viu tomado por uma pergunta perturbadora: O que leva
alguém a visitar um local onde viu tanta gente morrer? O que essas pessoas
procuram ali?
Guiado por sugestões do próprio Lennon, Tézenas visitou
lugares como Chernobyl, na Ucrânia, onde explosões e radiação
transformaram a cidade de Pripyat em um marco global do colapso tecnológico.
Esteve também no hotel onde Benazir Bhutto foi assassinada, no
Paquistão, e no museu instalado no antigo centro de detenção e tortura do
Khmer Vermelho, no Camboja. Outro cenário retratado é a cidade de New
Orleans após o furacão Katrina, em que os sinais da destruição foram
convertidos em parada obrigatória para ônibus turísticos.
A lente de Tézenas não procura o sensacionalismo. Ao
contrário: é a aparente normalidade da visitação — o cordão de isolamento, a
trilha sinalizada, a lojinha de souvenires — que se impõe como denúncia
silenciosa. Suas imagens oferecem uma meditação visual sobre a
espetacularização da tragédia e o embaraço moral que ela provoca. Como bem
observou Dorrit Harazim, que escreveu sobre o projeto em sua coluna para
a revista ZUM (14/09/2015), I Was There "nos confronta com a
demanda de um mercado crescente de consumidores que anseiam por vivenciar,
mesmo à distância segura, os resquícios do sofrimento alheio".
Esse ensaio sobre Tézenas está entre os muitos casos que
Harazim costurou com rigor e sensibilidade em seu livro O Instante Certo
(Companhia das Letras, 2016) — uma leitura altamente recomendada para quem
busca compreender o alcance e as contradições éticas da fotografia documental
contemporânea. Mas o trabalho de Tézenas se sustenta por si só como um
comentário incisivo sobre o presente: um tempo em que a dor alheia, desde que
bem iluminada, parece sempre prestes a virar atração.
Museu Auschwitz-Birkenau, na Polônia
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