Candida Höfer (n. 1944) levou a disciplina formal dos Becher para o território da cultura institucional. Suas imagens de bibliotecas, teatros e museus parecem inventários silenciosos, mas na ausência humana há uma crítica velada: são espaços públicos que dependem de corpos, mas se tornam monumentos vazios quando abandonados. Höfer manteve o rigor da frontalidade, mas expandiu-o para o campo da memória coletiva — menos catálogo, mais arqueologia.
Axel Hütte (n. 1951): Enquanto os Becher construíam arquivos da indústria, Hütte mergulhou em paisagens que desafiam a ideia de documento. Suas montanhas e florestas são registros tão precisos quanto enigmáticos, tensionando a neutralidade herdada. É o discípulo que mais suavemente distorceu a matriz: em vez de sistematizar, ele suspende.
Thomas Struth (n. 1954): De seus retratos de famílias até as cenas em museus, ele manteve a frontalidade becheriana, mas a colocou a serviço da observação das relações humanas. O que nos Becher era distanciamento quase científico, em Struth vira análise de comportamento. Ele não rompeu, mas reprogramou a herança: em vez de usinas e silos, famílias e turistas.
Andreas Gursky (n. 1955): Seus supermercados e bolsas de valores são herdeiros diretos da repetição e da frontalidade dos Becher, mas hipertrofiados até o monumental. Se os mestres colecionavam tipologias, Gursky coleciona o mundo globalizado. Ao manipular digitalmente suas imagens, ele rompe o pacto com a neutralidade e cria um hiper-real que seduz tanto museus quanto colecionadores. É o mais bem-sucedido financeiramente, mas também o que mais teatralizou a herança.
Thomas Ruff (n. 1958) foi o que levou a radicalidade conceitual às últimas consequências. Começou com retratos neutros que quase replicavam o distanciamento dos Becher, mas logo passou a tensionar o medium: pornografia pixelada, imagens de satélite, manipulações digitais. Ruff não apenas expandiu a fotografia; ele a questionou desde dentro, mostrando que o legado dos Becher podia servir como alavanca para desconstruir o próprio estatuto da imagem
Se a formação acadêmica forneceu a base, o mercado de arte garantiu a projeção. Nesse ponto, a figura do marchand David Zwirner foi decisiva. Filho de Rudolf Zwirner — pioneiro do comércio de arte contemporânea na Alemanha —, David consolidou em Nova York, a partir da década de 1990, uma galeria que se tornou plataforma global para essa geração. Representando nomes como Struth, Ruff e especialmente Gursky, Zwirner ajudou a legitimar a fotografia como objeto de coleção e a inseri-la no mesmo circuito dos grandes pintores e escultores contemporâneos. Sua atuação não foi apenas comercial, mas também institucional, articulando exposições e publicações que cristalizaram a Escola de Düsseldorf como um capítulo central da história recente da fotografia.
A chamada Escola de Düsseldorf, portanto, não é apenas um conjunto de fotógrafos formados sob os Becher, mas uma virada cultural: a transição da fotografia de disciplina quase artesanal para protagonista da cena internacional, capaz de rivalizar com as linguagens tradicionais da arte.
VÍDEOS INTERESSANTES:
- Stephen Shore: La Brea, o ponto de origem (Lapis Press).
Um projeto levou seis fotógrafos alemães a Los Angeles para investigar a influência de Stephen Shore e da New American Color Photography dos anos 1970. O marco desse diálogo foi a foto “La Brea Avenue and Beverly Boulevard, 1975”, vista como ponto de encontro entre os olhares americano e alemão.
A história começou em 1976, quando os Becher adquiriram uma cópia da imagem e passaram a mostrá-la a seus alunos em Düsseldorf. Para Struth, Höfer e Hütte, foi o primeiro contato com a fotografia em cor americana. A foto ainda ganhou espaço na Documenta 6 (1977) e no livro The New Color Photography (1981). O diálogo reverberou em obras como a série “Unconscious Places”, de Thomas Struth, inspirada diretamente em Uncommon Places, de Shore.
- Exposição de Thomas Ruff, "Tableaux Chinois", na galeria David Zwirner que aconteceu em 2021. Essa série surgiu de seu interesse pela fotografia de propaganda - um gênero que entra em conflito com a própria natureza da fotografia ao apresentar uma versão da realidade moldada por ideologias.